ELE QUER TRANSFORMAR A PM

Se depender do sensei Coronel Alcino Lagares, os princípios da arte marcial japonesa Aikido vão mudar as ações de combate dos policiais militares nas ruas.

Saem os socos, os pontapés e os mata-leões e entram as técnicas de combate pautadas pela ética, pelo respeito e que garantem a integridade física do próximo. Esse é o plano do sensei Coronel Lagares.

Faixa preta do 5º Dan de Aikidô, Lagares quer usar os princípios da arte marcial japonesa no treinamento de combate da Polícia Militar, substituindo o uso de lutas mais agressivas como o MMA.

O projeto já começou a ser implementado na academia da PM de Minas Gerais e tem o objetivo de ser ampliado para todo país a partir de 2022.

“O COMANDANTE-GERAL DA PMMG NÃO QUER AQUI ALGO SEMELHANTE AO TRISTE CASO DO GEORGE FLOYD NOS ESTADOS UNIDOS, MORTO POR UM POLICIAL QUE PRESSIONOU SEU PESCOÇO COM O JOELHO”, DIZ LAGARES.

Para evitar casos este, o Cel. Lagares conta com um importante apoio: seu filho, Rômulo Lagares, 4º Dan de Aikido e professor de Defesa Pessoal Policial e uso da Força na Academia da PM mineira.

“SE A GENTE CONTINUAR TRATANDO O TREINAMENTO POLICIAL COMO UMA FORMA DE MMA SEMPRE QUE A PM TIVER QUE USAR A FORÇA VAI PARECER CONTRADITÓRIO FALAR DE DIREITOS HUMANOS”, DIZ RÔMULO.

“HOJE. O TREINAMENTO DO USO DA FORÇA POLICIAL GERA UMA IDEIA DE RIVALIDADE, EM QUE UM TEM QUE GANHAR E OUTRO TEM QUE PERDER. QUEREMOS SAIR DOS ESPORTES DE COMBATE QUE GERAM ESSE PENSAMENTO”.

“A NOVA DOUTRINA ENSINA QUE NÃO PODEMOS TER PESSOAS COMO INIMIGAS E SUPRIME A RIVALIDADE, JÁ QUE ESTÁ BASEADA NOS PRINCÍPIOS DO AIKIDO, UMA ARTE MARCIAL ESPECIALIZADA NA HARMONIZAÇÃO DE CONFLITOS”.

A teoria soa simples resumida assim em poucas linhas. Mas, na prática, o trabalho do Cel. Lagares começou há décadas. Para explicar, é preciso voltar alguns anos no tempo.

Até a década de 1980, a arte marcial que predominava nos treinamentos da PM mineira era o judô. O próprio Lagares aprendeu a luta na Academia da polícia — e foi duas vezes campeão brasileiro entre PMs.

Mas ele começou a sentir limitações do judô na ação policial. Até que seu professor na academia chegou de uma viagem ao Japão com uma novidade no treinamento da polícia: o Aikido.

Lagares se especializou e começou a ensinar a nova arte marcial na PM. Em paralelo, analisava e documentava os resultados do uso do Aikido nas ruas em comparação com outros tipos de luta.

Junto aos estudos empíricos de Lagares, outros parecidos começaram a pipocar. E o sensei coronel passou a ser orientador de teses de pós-graduação sobre defesa pessoal policial na academia da PM.

“É A MAIOR PESQUISA CIENTÍFICA SOBRE AS ARTES MARCIAIS TRADICIONAIS APLICADAS À EDUCAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA”, DIZ RÔMULO. “E FOI DIRIGIDA PELO MEU PAI, O CEL LAGARES”.

Essas décadas de investigação e aprendizado transformaram-se na proposta de reorientação do treinamento do uso da força apresentada pelo Cel. Lagares e por Rômulo.

MAS, MESMO COM ESTUDOS PARA JUSTIFICAR A MUDANÇA DO USO DA FORÇA POLICIAL OS DOIS SABEM QUE ENFRENTARÃO RESISTÊNCIAS. “EXISTE ESSE PENSAMENTO DE QUE TEM QUE DAR PORRADA EM VAGABUNDO”, DIZ RÔMULO.

“É UM ERRO TERRÍVEL FALAR QUE DIREITOS HUMANOS SIGNIFICA PROTEGER BANDIDO. VAMOS MOSTRAR QUE É POSSÍVEL FORTALECER A TÉCNICA POLICIAL E AO MESMO TEMPO TER MAIS CUIDADO COM A DIGNIDADE HUMANA”.

E qual seria o próximo passo para alcançar uma sociedade menos violenta? Com a resposta, Alcino — não só o coronel, Lagares mas também o pós-graduado em filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia:
“HÁ DOIS ERROS DE PERCEPÇÃO: UM É ACREDITAR QUE A POLÍCIA PODE E(TIN6UlR A CRIMINALIDADE NUMA SOCIEDADE; OUTRO É ACREDITAR QUE A SOCIEDADE NÃO POSSA A CRIMINALIDADE. PRECISAMOS CAMINHAR JUNTOS”.

 

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